A análise de demonstrativos contábeis é um dos pilares para compreender a saúde financeira e patrimonial de uma entidade. Para contadores, administradores e gestores, o processo vai muito além de verificar números: trata-se de interpretar, cruzar informações e identificar tendências que orientem decisões estratégicas.
No Brasil, a estrutura dos demonstrativos contábeis é regulada pela Lei nº 6.404/1976 (Lei dasS.A.), pelas Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) e, no setor público, pelo Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP) e pelas NBC TSP.
1. O que são Demonstrativos Contábeis
Os principais demonstrativos, no âmbito empresarial, incluem:
• Balanço Patrimonial (BP)
• Demonstração do Resultado do Exercício (DRE)
• Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)
• Notas Explicativas
No setor público, incluem ainda:
Balanço Orçamentário (BO)
• Balanço Financeiro (BF)
• Demonstração das Variações Patrimoniais (DVP)
2. Etapas do Processo de Análise
O processo de análise de demonstrativos contábeis pode ser dividido em seis etapas principais:
a) Coleta e organização dos dados
• Reunir todos os demonstrativos do período a ser analisado.
• Garantir que as demonstrações estejam auditadas ou devidamente revisadas.
• Observar o regime contábil (caixa ou competência).
b) Leitura preliminar
• Identificar principais variações em contas relevantes.
• Comparar com períodos anteriores.
• Verificar se houve mudanças na política contábil ou na forma de apresentação.
c) Aplicação de técnicas de análise
• Análise vertical: avalia a participação de cada conta em relação a um total (ex.: % de despesas sobre a receita líquida).
• Análise horizontal: mede evolução ao longo do tempo (crescimento ou redução de valores).
• Índices financeiros: liquidez corrente, margem líquida, endividamento, rentabilidade etc.
d) Interpretação dos resultados
• Relacionar números com fatos econômicos e operacionais.
• Considerar fatores internos (mudança na produção, política de crédito) e externos (inflação, variação cambial, legislação).
e) Comparação com parâmetros de referência
• Benchmarking com empresas ou entes públicos do mesmo porte e setor.
• Avaliação de conformidade com limites legais (ex.: LRF no setor público).
f) Elaboração de relatório gerencial
• Apresentar conclusões objetivas.
• Indicar pontos fortes e riscos.
• Sugerir ações corretivas ou estratégicas.
3. Exemplos práticos
• Empresa privada: ao analisar a DRE, um contador percebe aumento de 20% no custo de mercadorias vendidas, sem aumento proporcional na receita, indicando possível necessidade de renegociação com fornecedores.
• Órgão público: no Balanço Orçamentário, observa-se execução de apenas 65% das receitas previstas, demandando revisão do planejamento orçamentário.
4. Importância da análise contínua
A análise não deve ser feita apenas no encerramento do exercício. Monitoramentos
trimestrais ou mensais permitem:
• Detectar problemas antes que se agravem.
• Aproveitar oportunidades de investimento.
• Ajustar estratégias fiscais e orçamentárias.
5. Boas práticas
• Usar ferramentas tecnológicas de Business Intelligence (BI) para acompanhamento em tempo real.
• Manter atualização constante sobre normas contábeis e tributárias.
• Registrar hipóteses e premissas utilizadas nas análises.
• Comunicar resultados de forma clara, inclusive para não especialistas.
Conclusão
O processo de análise sobre demonstrativos contábeis é mais do que um cumprimento de obrigação técnica: é um diferencial competitivo e de gestão. Uma análise bem conduzida gera informações que orientam decisões estratégicas, fortalecem a transparência e contribuem para a sustentabilidade financeira, tanto no setor privado quanto no público.
Fonte: contadores